Decidi criar a categoria “Interrompendo a Programação” para posts cujas ideias vêm inusitadamente. Então pode ter conteúdos sobre podcasts, livros, música, ou meras reclamações - pois adoro reclamar, sim.
E após ouvir o vigésimo quinto episódio do podcast Chá com História, sobre Natalie Paley, fiquei inspirada pela discussão das apresentadoras sobre as diferenças entre filmes europeus e hollywoodianos, especificamente na década de 1920. Portanto, decidi listar alguns filmes franceses que eu gosto.
Uma Nova Amiga
Começando com esse drama LGBTQI+ de 2014, que eu ADORO! A história conta sobre duas melhores amigas, Claire e Laura, que cresceram juntas, até que uma delas morre, deixando o marido e filha. Cumprindo a promessa que fizera à amiga em seu leito de morte, de cuidar da família, Claire (Anaïs Demoustier) se aproxima do marido David (Romain Duris) da falecida Laura (Isild Le Besco) - e descobre um lado sobre ele e o relacionamento com a esposa que deixa-a intrigada.
Destaque para a maneira que eles apresentam Claire e seu desenvolvimento, em que através da nova amizade, ela descobre mais sobre si mesma, seu casamento e, por consequência, a sua própria sexualidade.
Falar mais do que isso seria spoiler, então deixo o trailer para vocês assistirem.
O filme encontra-se disponível no catálogo do Globoplay e também disponível para aluguel e compra no YouTube/Google Filmes.
Nunca É Cedo Para Amar
Essa comédia leve e fofinha de 2014 conta a vida de Lou (Lola Lasseron) e a rotina que mantém com sua mãe (Ludivine Sagnier), como comer na pizzaria em frente ao seu prédio, stalkear o seu vizinho bonitinho e também, fazer uma série em vídeo com suas bonecas, ao lado de sua melhor amiga. As coisas mudam quando Lou decide intervir na vida solitária da mãe, adicionando um pouco de romance. Ao mesmo tempo, alguns de seus planos não dão certo e a visita da avó severa somada a conflitos em seus relacionamentos contribuem para o amadurecimento da jovem de 12 anos.
A individualidade e espontaneidade da personagem tornam a atmosfera fofinha, pondo a racionalidade de lado. É um bom filme pra assistir no final de semana, deitadinhe, com les amigues ou a família.
Trailer legendado em inglês
A Bela e A Fera
Todo mundo conhece a história e essa é só mais uma adaptação, certo? Errado! Também lançado em 2014, a história desse live-action franco-alemão contém mais detalhes que o musical de 2017 feito pela Disney. Nessa película, vemos a família de Bela (Léa Seydoux), não apenas seu pai, como suas irmãs materialistas e seus irmãos - todos péssimos filhos em comparação a ela - o alecrim dourado. Também é mostrado a história da Fera (Vincent Cassel), que é um pouco diferente da que conhecemos da versão da Disney.
Toda a história é desenvolvida em meio a um cenário e figurino be-lís-si-mos, com uma fotografia incrível! Destaque também para o desfecho da história, que é bem diferente do que estamos acostumades.
O filme encontra-se disponível nos catálogos do Amazon Prime Video, Globoplay e Telecine Play.
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain
E agora ele, o famosinho da lista, favorito dos cinéfiles e cults, que completou vinte anos em 25 de abril! Vou defender esse filme até o fim!
Amélie Poulain (interpretada por Audrey Tatou) é uma jovem que cresce isolada das outras crianças, sem o carinho e contato físico dos pais, mas isso não a impede de ser gentil e amigável quando adulta. Após achar uma caixinha no banheiro de seu apartamento, ela faz de tudo para devolvê-la ao dono, achando um propósito em sua vida, que é o de ajudar as pessoas à sua volta. Ao passo em que ela vai trabalhando para melhorar as situações de seus amigos, vizinhos, colegas de trabalho e pai, ela também se interessa por um misterioso rapaz que coleta fotos descartadas de uma cabine de fotos no metrô.
Amélie Poulain é um filme francês fofinho, daqueles “filmes conforto”, uma comédia romântica que apresenta personagens diferentes, de uma cultura diferente da nossa, e em uma história em que os detalhes que constroem o filme e amarram a beleza do mesmo.
Fora os aspectos gráficos de usos de cores, fotografia, cortes e montagem e afins, tudo contribuindo para a formosura do longa. O Fabuloso Destino de Amélie Poulain mostra uma França que gostaríamos de viver, com pequenas aventuras e romance.
Dentro da Casa
Agora pra quebrar o clima fofo, um thriller com doses de drama que eu descobri graças à Adriana Cecchi, do canal Redatora de M*%$#. Germaine (Fabrice Luchini) é um professor de literatura frustrado com a rotina e a “mediocridade” de seus alunos, porém um deles se destaca ao escrever um texto - Claude (Ernst Umhauer), em que conta sobre seu final de semana, descrevendo de uma maneira interessante e envolvente a nova amizade com um colega de classe. Empolgado com o talento promissor do aluno, Germaine passa a dar mais atenção a Claude, a fim de melhorar suas habilidades de escrita - ao mesmo tempo em que ele se vê cada vez mais atraído pela história que seu aluno tece ao infiltrar-se na vida da família do amigo.
A base da trama é a fixação tanto do professor, quanto do aluno. Esse é um filme que exige um olhar mais aguçado, uma reflexão mais profunda para entender a beleza e a complexidade da história - e o quão bizarra ela pode ser, dando a sensação “será que isso foi real ou não?”.
O filme encontra-se disponível no catálogo do Amazon Prime Video.
Retrato de Uma Jovem em Chamas
Esnobado pelo Oscar de 2020, esse drama romântico (Também é visto por alguns como uma versão lésbica de Me Chame Pelo Seu Nome (de Luca Guadagnino) foi muito bem recebido pela crítica, ganhando o Queer Palm do Festival de Cannes - prêmio especial para filmes com a temática LGBTQI+.
No século XVIII, a trama se inicia com a chegada da pintora Marianne (Noémie Merlant) à uma mansão em uma ilha francesa, contratada “secretamente” para pintar um retrato da filha mais nova da senhora da casa, a fim de que ela se case com um pretendente em Milão. Porém Héloise (Adèle Haenel), a futura noiva, não quer se casar e dificulta todas as tentativas dos pintores que a retratam, então Marianne passa-se como dama de companhia e deve prestar atenção aos detalhes e fisionomia da jovem para pintá-la escondido no quarto de hóspedes.
Intenso e bem construído, a emoção do filme está no desenrolar da paixão entre as duas personagens - desde o momento em que se conhecem até quando elas confrontam os próprios sentimentos. Destaque também para a fotografia do filme, que é belíssima.
A película encontra-se disponível no catálogo do Telecine Play.
A Cidade Das Crianças
Agora um filme infantil, mas que serve para ver com a família toda. A história é sobre uma cidadezinha em que os pais, com o intuito de ensinar uma lição às crianças bagunceiras, decidem ir embora e se esconder na floresta por um tempo. Caos e diversão se iniciam quando os jovens experimentam o lado bom e ruim de viver sem o controle parental.
Afinal, quem nunca imaginou uma vida sem os pais quando criança, pensando em “fazer o que quiser”? A mensagem que o filme passa é o quão importante os pais são na vida dos filhos e que a falta de responsabilidade e obrigações são necessárias para manter o equilíbrio da vida - simplificando, só lazer e farra cansam, depois de um tempo.
Na Cama Com Victoria
A advogada Victoria Spick (Virginie Efira) tem uma vida um tanto caótica, na qual ela tenta lidar com as duas filhas pequenas, o ex-marido escritor de um blog obcecado em expor sua vida, desencontros sexuais, o vício em remédios e o próprio trabalho. As coisas pioram quando um amigo pede a ela que advogue em sua defesa após um incidente numa festa de casamento, e ao mesmo tempo, um ex-traficante passa a morar em sua casa e atuar como assistente pessoal (babá de suas filhas, principalmente) e seu ex publica um texto à la exposed em seu blog, revelando detalhes íntimos como um antigo caso com um juiz.
O filme pega um recorte cômico (e meio raso) para mostrar como a vida da mulher mãe solteira é injusta, e como elas são cobradas de todos os lados, de várias maneiras, e que isso resulta em ciclos de frustrações e um vazio de sentimentos. Se analisar muito por esse aspecto, é meio triste, sim, mas tem um romancinho legal e vale a pena ver. Você pode assistir esse filme pelo Telecine Play.
Um Instante de Amor
Um draminha bem água com açúcar mas com elenco bonito, o drama de 2016 não agradou muito à crítica. Porém, justamente pelo elenco, eu decidi adicionar esse filme a lista, também.
Gabrielle (Marion Cotillard) é uma jovem que vive no sul da França nos anos 1940 e sofre de dores crônicas, além de ter a sensualidade e sexualidade veementemente reprimidas pela família. Forçada a se casar (ou ir para um convento), ela opta pelo casamento com o construtor espanhol José (Àlex Brendemühl) - porém obviamente, essa relação não possui nem amor e tampouco sexo, o que deixa Gabrielle muito frustrada. Em certo momento, ela descobre que suas dores no corpo eram consequência de um problema nos rins, e vai até uma clínica na Suíça para se tratar - lá, ela conhece o tenente André (Louis Garrel), e se envolve com ele.
O interessante no começo desse filme é como a repreensão do sexo pode prejudicar alguém - afinal, se Gabrielle pudesse sair transando loucamente como ela queria, a vida dela não teria sido tão ruim. Infelizmente, a narrativa se perde um pouco a partir da metade do filme, e o final é estranho. Mas, vale a pena pela atuação do elenco e fotografia.
O filme encontra-se disponível no catálogo do Looke, para assinantes.
Cléo das 5 às 7
Drama dos anos 1962, é um dos filmes emblemáticos da nouvelle vague, vanguarda do cinema francês, que ocorreu durante meados dos anos 1950 até o início da década de 1960. Dirigido por Agnès Varda, é uma obra essencial para aprender sobre a história do cinema
Cléo (Corinne Marchand) é uma cantora que está esperando os resultados de um exame para saber se está com câncer, e passa essas duas horas com a preocupação lhe rondando - oscilando entre fazer aquilo que deseja (o famoso chutar o pau da barraca) e sofrendo com as chances de estar mesmo doente.
A nouvelle vague (tradução: “nova onda”) é um movimento artístico que surgiu a partir da revista Cahiers du Cinéma, em que críticos e cinéfilos adotaram esse termo para obras contrárias ao padrão hollywoodiano da época. Eram filmes que expressavam le direter, em que é possível reconhecer toda a sua personalidade através dos elementos que construíam a película. Takes longos, uso de luz natural, filmagem fora de estúdio, cortes abruptos, ângulos diferentes e realismo nas histórias são características da vanguarda.
No caso do longa em questão, vemos Cléo percorrendo pelas ruas, ao som ambiente, com takes demorados por onde ela passa, tudo para tecer a angústia da espera, o medo da possibilidade - e a maneira como tudo se encaixa harmoniosamente é muito bela.
A obra encontra-se disponível no catálogo do Telecine Play.
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