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Sejamos Moxies

Foto do escritor: Cinéphile (In)occupéeCinéphile (In)occupée

Via Google Imagens

Moxie: Quando as Garotas Vão À Luta é o sexto filme que conta com Amy Poehler na direção e mostra o despertar para o feminismo na tenra idade


*ATENÇÃO: Esse post contém aviso de spoilers, se não quiser saber não leia após o aviso


O filme da Netflix estreou cinco dias antes do Dia Internacional da Mulher, e confesso que a data de lançamento já me deixou com o pé atrás, pensando que era um mero jogo de marketing, um filminho adolescente panfletário, raso, sem importante mensagem e completamente distante da realidade. Tamanho mau julgamento eu fiz.

Adaptado do livro de 2018, escrito por Jennifer Mathieu, a história é sobre Vivian (Hadley Robinson, de Utopia) e seu despertar em relação ao feminismo e a sua condição como mulher numa sociedade patriarcal. No início da película, é mostrada sua vida normal de adolescente, com a mãe zelosa e um tanto embaraçosa, a melhor amiga introvertida como ela e o pessoal da escola e suas respectivas panelinhas (numa montagem que me lembrou muito a de Donnie Darko). A situação muda com a chegada de Lucy Hernandez (Alycia Pascual-Pena), uma aluna negra que já chega na escola questionando a leitura de O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald - fato que impressiona Vivian. Aos poucos, a protagonista passa a se incomodar com os comportamentos machistas tanto dentro quanto fora da escola e o ápice de sua indignação se dá quando os atletas do futebol americano publicam “A Lista”, elencando as garotas da escola em categorias como “Melhor Bunda”, “Mais Pegável”, “Melhores Peitos”, dentre outras. Revoltada e inspirando-se nas zines feministas da juventude de sua mãe, Vivian cria a sua própria, intitulando-a de Moxie. Espalhando-as pelo colégio, Vivian dá início a uma revolução, impactando e despertando outras garotas também fartas das injustiças.

Créditos: via Tumblr

Na tradução, moxie significa ter bravura, e é um dos adjetivos que a diretora Shelly usa para elogiar o time das líderes de torcida e de time masculino de futebol americano. ||No gif, Viv diz: "Eu preciso de uma porrada de cópias".


São muitas coisas boas que eu posso citar acerca dessa obra cinematográfica (e eu vou, mais à frente, comentando com spoilers), porém o que me comoveu principalmente, sobre esse filme é que ele mostra que existem vários jeitos de você apoiar uma causa e mudar um pouquinho o mundo. Você não precisa ser mulher para ser feminista, nem precisa ser aquele militante assertive que está dando a cara a tapa sempre, você pode iniciar uma revolução com uma zine e manter-se anônime sobre isso, e está tudo bem - o que importa, mais do que tudo, é você realmente se importar com a causa.

Aliás, a diretora Shelly (Marcia Gay Harden, de Pollock) é o contraponto perfeito do que eu citei de não precisar ser feminista - já que a personagem é uma das que mais contribuem para que as injustiças continuem, sendo tão machista quanto os rapazes do colégio.

Simone de Beauvoir, escritora, filósofa e ícone pensadora do feminismo uma vez disse, “não se nasce mulher, se torna mulher”, e - questões de gênero e identificação a parte - é sobre isso, é esse o show que Amy Poehler dá com a adaptação, com um elenco super diverso (diverso de verdade), questões para refletirmos e uma mensagem sobre ter coragem, sobre ser MOXiE!



ATENÇÃO! ATENÇÃO! SPOILERS A PARTIR DESTE TRECHO, SE NÃO ASSISTIU, LEIA POR SUA PRÓPRIA CONTA E RISCO


Agora para você, leitor, que assistiu ao filme, vamos conversar? Vou esmiuçar alguns aspectos e personagens que senti necessidade de abordar. Vale ressaltar novamente, que são opiniões e percepções que eu tive ao assistir, e convido vocês a me refutar nos comentários, lá embaixo.



A VIVIAN TEM *MUITOS* DEFEITOS

Começando com a protagonista, Vivian Carter. Por mais incrível que seja ela ter tomado a iniciativa sozinha de criar a zine de Moxie, inspirada pelo passado da mãe, já no começo do filme vemos falhas dela, e aqui separei as mais relevantes.

Começando no que mais me incomodou: ela é uma amiga meio (muito) vacilona. Enquanto ela ganha confiança e amplia seu círculo de amizades com o movimento que criou, sua melhor amiga Claudia (Lauren Tsai, de Legion) não demonstra o mesmo entusiasmo que ela - e isso frustra tanto Carter quanto as novas amigas, parecendo que a outra não se importa.

Via Tumblr

Tradução: "E você não entende, Viv. Você não sabe o que está acontecendo comigo porque você é branca."


E o que Vivian faz quando ela e a melhor amiga discutem? Vai para um encontro com o Seth. Ela não vai atrás da amiga para tentar resolver o problema ou esboça culpa pela briga, e nem tenta resolver depois.

Ela vê que Claudia precisa de um empurrãozinho para aderir à causa, mas ela não dá um toque - talvez isso até seja parte da personalidade introspectiva de Vivian, de se calar ao invés de manifestar a opinião. E apesar de ser legal ver a Claudia despertando sozinha como as outras, Vivian, como melhor amiga, tinha que alertar a amiga - afinal, elas são melhores amigas há anos e têm a própria piada interna, não é algo que se deixe de lado assim.

Segundo ponto: ela guarda muita coisa dentro dela e consequentemente, explode no final, descontando em quem não merece como Lucy, Seth, sua mãe e até no namorado legal dela. Ela carrega o segredo de ser a criadora de Moxie, e quando pressionada pela diretora, não admite - e até aí tudo bem, porque né? De encrenca a gente foge. Mas quando Claudia (novamente, Vivian péssima amiga) é responsabilizada e suspensa, ela explode com as meninas do grupo (que também foram vacilonas em achar daquilo um "sacrifício digno”), e vai brigando com cada um.

Ela reclama para mãe que ninguém a ajuda, mas que sinal ela demonstra de que precisa de ajuda? E em dado momento ela até menciona a ausência do pai numa briga com a mãe - para vocês terem noção do quanto ela enterra as coisas, principalmente as mágoas - bem no fundo, e isso é uma característica que ela deveria trabalhar mais com a ajuda de um profissional.



VAMOS FALAR SOBRE SETH?

Como não amar o Seth Acosta? Interpretado pelo ator Nico Hiraga (de Fora de Série), o personagem é a uma boa representação de uma masculinidade não tóxica - apesar de ele ter que mencionar que foi criado por mulheres fortes (Fiuk, é você?).

Momentos fofos de Seth Acosta (ou quase todas as cenas que ele aparece no filme)


A maneira como é retratada as interações dele com a Vivian, com tanta organicidade, foi algo muito importante e realista - mesmo com aquele encontro meio mórbido mas superfofo na funerária. Super importante mencionar também o quanto ele se preocupa em não forçar as coisas com a Vivian e também se impõe na hora do sexo, reconhecendo que ele ainda não está pronto. Acosta é a desconstrução do garoto que quer transar a qualquer hora em qualquer lugar, que apoia as merdas que outro homem faz por “irmandade”, e que não tem vergonha de apoiar mulheres e reconhecer que ele é privilegiado pelo gênero.



PANFLETANDO THE LINDA LINDAS, SIM

Pra você que não é muito atento a cena musical punk, sim, a banda que aparece no filme, The Linda Lindas é real, e até a Hayley Williams, vocalista da banda Paramore, é fã.

Tradução: “Hehe, bandas existem e The Linda Lindas tem sido uma das minhas novas preferidas bandas punk desde a época que saíram do útero ... Assistam ao cover de Bikini Kill E The Muffs.”


Composta por Mila, Eloise, Lucia e a amiga próxima, Bela, são descrites como seguidores da vertente Riot Grrrl, movimento punk feminista underground que surgiu nos EUA na década de 1990, tendo como a banda Bikini Kill (quem aí assistiu Sex Education já ouviu falar, no mínimo) como um dos principais nomes do movimento. A própria Lisa (Amy Poehler), mãe de Vivian, foi uma Riot Grrrl quando jovem, e até uma das frases que ela sempre diz à filha é “Mantenha a cabeça erguida” é um trecho da música Rebel Girl, do Bikini Kill - na película, as The Linda Lindas tocam um cover dessa música.

Vídeo promovendo o filme Moxie: Quando As Garotas Vão à Luta. A primeira música tocada é o cover de Rebel Girl, do Bikini Kill; a segunda é Big Mouth, do The Muffs.


O interessante do grupo é que ele é composto por menines meio asiátics, meio latines, e bem jovens por sinal, e que tocam muito bem, chegando até a abrir para um dos shows na turnê de reunião do Bikini Kill, em 2019, sendo escolhides pela própria vocalista, Kathleen Hanna.

O quarteto promovendo o filme Moxie: Quando As Garotas Vão À Luta, com os corações e estrelas nas mãos.



RIVALIDADE FEMININA: A FALTA QUE ELA NÃO FAZ

Em filmes adolescentes, é regra ter a protagonista diferentona rivalizando com a popular - que geralmente é a líder de torcida, e muitas produções originais da Netflix seguem essa receita à risca (Crush À Altura, Barraca do Beijo, etc.). Por isso Moxie é um respiro em meio a esse mar de produções imutáveis, em que diferentes meninas ficam amigas e se unem por uma causa em comum.

E é muito bonito ver elas se apoiando, desenhando os corações e estrelas nas mãos, usando regata para protestar contra a suspensão injusta Caitlin (Sabrina Haskett), fazendo campanha para Kiera (Sydney Park, de As Visões da Raven) ser eleita a atleta estudantil, colando adesivos de “Você é um Babaca” pela escola, dentre outras cenas mostradas. É esse tipo de relação que se deve mostrar em obras audiovisuais, é um aprendizado muito valioso para os jovens, é muito mais realista do que mostrar uma menininha popular que pratica bullying só porque é bonita e tem poder aquisitivo.

Créditos: via Tumblr

A campanha para Kiera mobiliza quase todas as garotas do colégio de Rockport



LEVIANDADE NOS ASSUNTOS MAIS SÉRIOS

Porém por mais que tenha muitos elementos bons e dignos de nota, devemos reconhecer que há falhas na história; começando pela maneira rasa como retratam a Lucy, a impressão que me passa é que ela não passa de uma sidekick para Vivian, traduzindo, ela aparece como uma ajudante e serve mais para o crescimento da protagonista branca, uma melhor amiga e só. Não sabemos muito sobre ela, sobre sua família, e temos uma ideia não muito exata sobre sua sexualidade no meio do filme (aliás, alguém mais tá curiose pra saber se elas viraram casal ou não? Foi um mero beijo no calor do momento? Será que elas chegaram a sair, depois? Comentem aí, preciso saber!).

Outra falha muito grave foi na cena após Emma (Josephine Langford, de After) desabafar e revelar à escola que o ridículo astro do futebol americano Mitchell (Patrick Schwarzenegger, de Scream Queens) a estuprou, a diretora Shelly vai até a sala de aula convocá-lo, mais devastada pelo fato do Mitchell ter sua imagem de príncipe perfeito destruída do que pelo fato de uma aluna ter sido estuprada. Se tem alguém que aparentou não ter aprendido nada e evoluído, é a diretora.

E por fim, temos o perdão de Seth e Claudia em relação à Vivian. Aconteceu fácil demais, bem daqueles pra encerrar o filme com tudo numa boa. Vamos analisar: Claudia foi suspensa, fato que pode impedir que ela entre numa boa faculdade e que deixou a mãe dela decepcionada. Seth, por outro lado, passou por uma experiência desnecessariamente humilhante quando ele não fez nada além de apoiar a namorada, e no fim ele escreve o nome dela no braço - exatamente o que ela acusou do que ele queria que ela fizesse. E um ato de vandalismo (muito merecido, verdade seja dita) feito por uma introvertida, merece um perdão tão fácil assim? No mínimo eles poderiam ter feito um drama maior. E bônus: ela NÃO pede desculpas para mãe, mesmo com a Lisa levando a melhor amiga dela para o protesto - fora todas as outras coisas que ela fez pela filha, ao longo da trama.

Ok, ok, espumei tal qual um pincher. Críticas à parte, Moxie é um filme para adolescentes, e furos assim chegam até a ser esperados em tipos assim (fora que o tempo de tela é pouco para abranger tudo) - o que importa, é a mensagem principal do filme: não tenha medo de ser MOXiE!


Créditos via Tumblr

Tudo é lindo e colorido no final do filme – mas também gente, quase duas horas de filme é pouco para abranger tudo o que é necessário



FICHA TÉCNICA

Nome: Moxie - Quando as Garotas Vão À Luta

Gênero: Comédia/Drama

Ano: 2021

Duração: 1h 51 min

Direção: Amy Poehler

Roteiro: Tamara Chestna

Elenco: Hadley Robinson, Lauren Tsai, Alycia Pascual-Pena, Nico Hiraga, Amy Poehler, Patrick Schwarzenegger, Marcia Gay Harden, Sydney Park, Josephine Langford, Clark Gregg, Ike Barinholtz

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